domingo, 16 de outubro de 2016

Soneto sexista





Soneto sexista

Entrei numa polêmica questão,
metendo o meu genérico nariz.
Dum símbolo, emiti a opinião;
de modo generalizante, fiz.

Contudo percebi, não fiz bem, não...
Meu gênero por dentro, na raiz,
expôs-se para fora, sem roupão,
e “os povo” da geral, de seus covis,

clamaram: “Preconceito, seu machista,
seu filho de uma puta normalista,
metido a se meter em emissões

de ranhos, de melecas, opiniões,
com porra de nariz e de cabeça".
"Cabeça lá de baixo, não se esqueça!”.


***Img by Me and I.
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9 comentários:

Marcelino disse...

kkkk. Muito bom, Bardo.

BAR DO BARDO disse...

Era uma polêmica acerca do símbolo "arroba", Marcelino.

tudoporfazer disse...

Voltando a Manoel de Barros, e penitenciando-me quanto à questão de haver ou não Millôr Fernandes feito referências ao proseta cuiabano:

Na revista IstoÉ Senhor, de 3 de outubro de 1984, Millôr "reapresenta" MB (havia prefaciado um livro de MB, Arranjos para Assobio, 2 anos antes);

Em 8 de novembro de 1985, na coluna de opinião do Jornal do Brasil, Millôr, sob o título "Olhaí, Moçada, Poesia é Isso!", reproduz o prosema "Sabiá com Trevas", de MB.

Feito o registro, continuo achando a obra do "moço" um lixo só...

BAR DO BARDO disse...

Iac, iac, iac. O Millôr é um gênio. Não significa que suas opiniões sejam geniais, sempre. Abraço, Jarbas! Ó, vou repetir, MB não é meu poeta predileto. Nutro mais "ternura" por Quintana, por Cecília e, principalmente, por Bandeira. Eu queria ser Bandeira, sem dar flâmula.

tudoporfazer disse...

O Quintana era muito bom, mesmo quando tentava "ir na onda" modernista e fazer prosemas em vez de poemas. Quem é poeta de verdade, sempre aparece; não consegue esconder. Alguém (se não me engano o Carpinejar; ou seria o prof. goiano Francisco Perna Filho?) fez um mestrado comparando "coincidências temáticas" entre versos de Bopp e MBarros. Os de MB parecem plágios malfeitos (ou lembranças imprecisas) dos equivalentes (e anteriores) de Bopp...

Millôr só aparentemente era um desses fragmentários que se querem poetas. Seus fragmentos tinham sentido pleno; ele simplesmente economizava o óbvio. Não sei se ainda concordo com a frase milloriana sobre lucrar com o próprio idealismo. Se a frase for justa, poderíamos também espinafrar quem lucra com a sua falta de idealismo. Fica a impressão que Millôr condena o lucro em si (ou o sucesso em si). E entre Millôr e Chico Buarque, fico com os dois; e contra Niemayer e outros "gênios" impingidos ao grande público.

BAR DO BARDO disse...

Quintana é de meus prediletos. Antes, vem Bandeira. Cecília transcende. Há muitos bons poetas no Brasil. Do sr. Raul Bopp, só conheço Cobra Norato, que é uma delícia. Convido ora a conhecer o sonetista Renato Suttana. Breve, terá lançamento de um excelente livro de sonetos. Eu, que nem merecia, fiz um pequeno prefácio para ele. Guarde esse nome: Renato Suttana. Abraço, J.

tudoporfazer disse...

Pois é, Pimenta. Fui conferir poemas e prosemas do Renato.

Um prosema, "Na tarde", me deixou boiando. Parece que baixou no Suttana o espírito de um proseta muito nosso conhecido. E ali fui agredido por um "ouro mesquinho" (do supramencionado Ícaro ou da tarde?) , uma "tarde inaceitável" (para o Ícaro ou para o autor?), um "insuspeito verão" (para mim, suspeitíssimo!), umas "distâncias de erro que em silêncio se apagam" e outros fragmentos de sofá de psicanalista. Tudo muito compatível com a máquina que menstruava e com o chapéu com salto alto, do Manoel de Barros. Não sei o que o Ícaro foi fazer nessa peça "literária"...

E vi um "Soneto Tarjado", que entendi perfeitamente, pois tinha rima e métrica (bom sinal!) e dizia coisa com coisa, contando alguma coisa sobre um personagem suspeitíssimo cujo nome rima com berra, senterra, Camberra, encerra, guerra, etc.

Me pareceu um personagem interessante, com uma certa bipolaridade (autismo e poetismo). Com um imenso esgar cujo atrapalho descem nuvens, recolocam botões em máquinas voadoras e sulfatodeneomicina elefantes. Se é que me entende...

tudoporfazer disse...

Bom, Pimenta, aí em cima foi a primeira impressão, causada pelo prosema infeliz (se é que há acá algum que não há).

Mas o homem é muito bom, mesmo, quando navega pelo mundo real e pela Literatura (mais especificamente, pelos sonetos). Aí tudo é muito claro, conciso e preciso (e agradável).

Só não entendo o porquê das escapadas para os prosemas. Por que escrever coisas que não serão entendidas? Por que supor que imagens etéreas, imprecisas, nebulosas, fragmentárias, chegarão na mente do receptor como pensamentos profundos (ou altíssimos, inalcançáveis)?

Por que pensar que pegar um texto comum, sobre um tema comum, e mutilá-lo, e misturá-lo com outros textos mutilados e frases quebradas, criando um charabiá, é tão meritório quanto pegar um texto comum, sobre um tema comum, e valorizá-lo com rima e métrica e imagens e ilações compreensíveis mas surpreendentes (porque incomuns)?

Arte abstrata pode ficar bem em pintura, e isto ainda quando não nega seus elementos fundamentais - cores e contornos. Mas fica mal em Literatura ao negar os elementos fundamentais desta, que são, ao meu ver, comunicação (sobre uma base comum ao emissor e ao receptor) e sentido (gu-gu e da-da são retrocessos, não progresso).

Posso estar errado (porém ninguém vai mostrar isto produzindo charabiás; espero argumentos racionais), mas parece que a única função dos prosemas (de Drummond aos dois MBs) surgidos com a má interpretação do que seria a Arte Moderna e o Surrealismo, a sua única função é convencer gente absolutamente comum, e rasa, e iletrada, que ela é "poeta", pois pode juntar e hostilizar palavras tão destrambelhadamente quanto os "grandes" poetas "modernistas" (que não seriam reconhecidos por Mário de Andrade ou Raul Bopp). Veja o número estratosférico de prosemas e prosetas que prolifera por aí. Todo brasileiro virou "poeta". E todos estão cada vez mais confusos e infelizes, pois escrevem só para si, e se frustram quando "o mundo" não vê nos seus "poemas" o sentido e a beleza que eles também não vêem mas esperavam que um milagre os redimisse.


BAR DO BARDO disse...

Entendi, Jarbas. E vou insistir que RS é um excelente sonetista. Não por ser conhecido, mas por ser o que é. Abraço!